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Estagiário sob supervisão de Severino Francisco*

Movimento brasiliense investe em identidade candanga para o funk

Artistas da cidade investem no potencial próprio para produção local e ensaiam a criação de um legítimo funk brasiliense dançante e com a ginga do cerrado


 

Já se vão algumas décadas desde que o ritmo funk começou a ser moldado nas vielas das favelas cariocas. Numa conexão entre Rio de Janeiro, Miami e África, o estilo musical deu os primeiros sinais de vida na década de 1980. De lá pra cá, fez bastante barulho. Cada vez mais popular, extrapolou limites geográficos e conquistou o país. A capital, por sua vez, ganha novos artistas que querem botar o funk brasiliense no mapa.


No início da década de 1970, o Rio de Janeiro vivia um fenômeno cultural inspirado no que vinha acontecendo nos Estados Unidos à época. Cariocas suburbanos se encontravam em festas na periferia para celebrar a cultura e resistência negra ao som do funk de James Brown. Nascia o baile funk. O som característico brasileiro só tomou forma nos anos 1980. Os bailes foram tomados pelo Miami Bass, ritmo nascido na Flórida com batidas mais rápidas e letras erotizadas. Em 1982, o artista americano Afrika Bambaataa lança a faixa Planet Rock, considerada por muitos a pedra fundamental da levada brasileira. De posse das novas influências, DJ Marlboro sobrepõe letras cantadas em português às batidas americanas e concebe o funk carioca.


Nas décadas seguintes, o funk travou uma batalha para ganhar respeito e espaço. Associado às favelas e com letras que retratavam a realidade de violência e temáticas sexuais, o ritmo não era bem-visto. O movimento, por sorte, tinha força e conseguiu quebrar as barreiras impostas. Nos anos 1990, o funk ganhou uma vertente melódica com letras de amor, o funk melody. A nova roupagem permitiu que as canções ganhassem espaço nas emissoras de rádio e na televisão. O Brasil, enfim, se renderia ao ritmo nas vozes de Claudinho & Bochecha, Mc Marcinho e Latino.

Hoje, difundido pelo país, o funk começa a se ramificar e ganhar novos rumos, ao assimilar as culturas e ritmos regionais. Em Recife, o ritmo se misturou às batidas bregas e originou o bregafunk, ritmo mais tocado no carnaval de 2020. Em Curitiba, houve a criação do eletrofunk, combinado com a música eletrônica; em São Paulo, as letras ganham conotação de ostentação sobre o estilo de vida luxuoso dos funkeiros. Em Belo Horizonte, a levada é mais lenta e flerta com a experimentação sonora nas batidas. Brasília, por fim, ainda tímida no segmento, apresenta alguns artistas que gestam o que pode vir a ser o funk típico da capital do país.


Mc Guguzinho


Com sete anos de carreira, Gustavo Zanetti, conhecido como Mc Guguzinho, dividia o tempo entre o funk e o Exército. Passou dois anos no quartel e, no tempo livre, trabalhava com o sonho de ser artista. A dupla jornada serviu como inspiração: "Acho que a experiência no Exército me deu conhecimento para compor músicas diferentes". Hoje, sem o uniforme verde-oliva, o cantor acumula visualizações já chegam aos milhões na internet.

Sobre a cena de Brasília, Guguzinho comenta: "Brasília dá mais atenção ao rap, mas eu vejo uma 'molecada' começando a trabalhar com o funk por aqui. Ainda não é como Rio de Janeiro é São Paulo, mas está começando". O músico pondera que não há falta de artistas, mas há falta por parte da cidade: "O problema é a falta de oportunidade. É difícil encontrar locais que tenham estrutura e deem espaço".


Distrito Funk


Tendo início como produtora de festas, a Distrito Funk passou a se dedicar à produção musical e audiovisual com foco nos funkeiros da capital. Hoje, a equipe conta com produtores, videomakers, fotógrafos e designers gráficos. "Queremos criar uma identidade mais forte para os artistas daqui", aponta Kevin Manoel, fundador da produtora, ao lado de MC Nickinho.

A produtora, atualmente, tem seis funkeiros emergentes no catálogo: MC Nickinho, MC Menó da Capital, MC Elipê, MC Mari da GT, MC Magrin da ZS e DJ Enri. Segundo Kevin, a produção local ainda espelha as grandes cidades: "Os artistas de Brasília sempre acompanham, mesmo como referência distante, os estilos que estão em alta no Brasil, como é atualmente o funk de BH".

O produtor lembra que existe a cultura de colaboração musical entre artistas já famosos e os que estão começando para dar mais visibilidade aos novatos.


MC Moica


Mc Moica é um dos expoentes brasilienses no ramo do funk. Em 2021, alcançou números expressivos de streams nos hits Sereia e Oi sumida. O músico carrega consigo a bandeira do localismo e pretende encabeçar o movimento de Brasília para impulsionar os artistas da cidade.

Moica acredita que o funk de Brasília atual se distingue pelo modo de produção local, e não por ser um estilo propriamente dito: "A princípio, é uma questão de ser de Brasília para Brasília". Sobre a cena local, o cantor pontua: "Acredito que exista uma cena de funk, mas ela ainda não está bem difundida. Conheço poucos nomes, mas todos muito bons". O músico tem a ambição de voltar os olhos dos brasileiros para a produção da capital.

Mc Moica lançou, no final de 2021, o EP Bsbaile. O álbum, disponível nas plataformas de streaming, contém cinco faixas e traz no nome o convite para que Brasília adentre de vez os bailes funk.

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